Ilustração de Mariana Morais Santos

quinta-feira, 4 de abril de 2013


o senhor Vitorino perdeu o tino, sussurram as bocas
sem dentes. um desatino demitir-se, assim, de divino,
persistem os dentes fora das bocas. foi do piolho, grita o zarolho
do poleiro. foi da bicha, apita o moleiro no ribeiro.
o trejeito feminino do senhor Vitorino nunca me enganou,
rugiu de fininho o bailarino. pôs-se a jeito,
mugiu
o boi, foi o que foi.
o senhor Vitorino perdeu o tino, um desatino demitir-se de divino.

(Ilustração de Mariana Morais Santos)

quarta-feira, 3 de abril de 2013


o senhor Vitorino estugou o passo, a fim de ir
aos gambozinos. nem o zurro de um burro,
ióóóó-ióóó,
pelo caminho, que, diga-se, afligiu um estorninho,
abalou a expedição do senhor Vitorino. um submarino
vinha a jeito, disse para si o senhor Vitorino, que estugou
ainda mais o passo, a fim de ir aos gambozinos.

terça-feira, 2 de abril de 2013



um fino, um pires de amendoins e assente no livro,
pediu o senhor Vitorino ao taberneiro Justino.
isto não é a casa da mãe Joana, senhor
Vitorino, barafustou o taberneiro
Justino.
tem razão, mas a casa da mãe Joana é em contramão,
ripostou o senhor Vitorino. avio-lhe o fino, quanto aos amendoins
fale ali com o Pires, ataviou o taberneiro Justino, enquanto
dava uma descasca numa banana.

segunda-feira, 1 de abril de 2013



o casaco do senhor Vitorino tem um buraco fino
e um outro grosso na manga. foi da traça, que desgraça,
diz o senhor Vitorino. comprei-o a um marroquino,
novo, para os lados de Porto Covo,
o da música do Rui Veloso.
se fosse no punho, diz o testemunho,
era pior devido aos botões e os tostões
lá se iam pernas abaixo se fosse no bolso.
o casaco do senhor Vitorino tem um buraco fino
e um outro grosso na manga. foi da traça, uma desgraça
assim.


pela aldeia as bocas desdentadas falam na meia
do senhor Vitorino. está rota, a meia, dizem à boca cheia.
ele, o senhor Vitorino, não ouve, já disse o otorrino,
o mesmo que lhe deu cabo do pé de meia.
outra consulta, será que resulta, senhor doutor,
auscultava o senhor Vitorino. e o otorrino insistia,
senhor Vitorino, senhor Vitorino, quem é o otorrino.
não havia cura nem costura para tamanho
buraco,
e o senhor Vitorino pé de meia virou.
pela aldeia as bocas desdentadas falam na meia
do senhor Vitorino. está rota, a meia, dizem à boca cheia.


o senhor Vitorino perdeu um canino, enquanto
comia uma fatia de melancia.
doravante,
os miúdos durante o recreio vão repetir:
deixou de fazer au au, passou a fazer miau miau,
o senhor Vitorino é agora um felino. enquanto
comia uma fatia de melancia,
o senhor Vitorino perdeu um canino.


senhor Vitorino, confirma ou desmente o assassino, pergunta
o agente Zeferino com hálito a pepino. não confirmo
nem desminto, mas que o Pinto lia o matutino,
lia,
assim que o tiro atingiu em cheio o Miro,
afirmou o senhor Vitorino. abrenúncio, atirou
o agente Zeferino com hálito a pepino. esse não o vi,
diz o senhor Vitorino, mas que o Pinto lia o matutino, lia.